Globo perde recurso e terá de indenizar goleiro por reprisar lance, diz site

O lance aconteceu em 2020, durante uma partida da Série B do Campeonato Brasileiro

Nesta terça-feira (29), a Justiça de São Paulo condenou a TV Globo a pagar uma indenização de R$30 mil ao goleiro Alexandre Cajuru, por reprisar na programação do Sportv, uma falha que ele cometeu em 2020. A emissora já havia sido condenada em primeira instância, em 2023, mas teve o recurso rejeitado pela Justiça.

O relator do caso, o desembargador Marcello Perino, afirmou que a Globo extrapolou o direito à informação, expondo excessivamente o jogador, “com transmissão abusiva do lance”.

A falha em questão ocorreu durante uma partida da Série B do Campeonato Brasileiro, entre CSA (Centro Sportivo Alagoano) e Ponte Preta. Cajuru, então goleiro do time alagoano, não conseguiu defender um chute de longa distância, e o CSA acabou derrotado por 2 a 1. “Cajuru, que é isso?”, reagiu o narrador na transmissão ao vivo.

Na ação, o jogador alegou que a emissora exibiu o lance de forma sistemática na programação do Sportv, incluindo o momento em um compilado intitulado “Top 3 vaciladas no Brasileirão”. Segundo ele, o vídeo foi exibido “ao menos 4.800 vezes”, com inserções antes, durante e após partidas das Séries A e B.

Cajuru argumenta ter sofrido forte abalo emocional, sentindo-se culpado pelo erro. Ele acreditava que, com o tempo, o episódio seria esquecido por torcedores e dirigentes — o que, segundo afirma, não aconteceu.

O advogado João de Araújo Júnior, representante do goleiro, declarou: “Como era de se esperar, [a exibição reiterada] trouxe sérios dissabores, em virtude da repercussão no meio do futebol onde o goleiro vive e trabalha”. A defesa pontuou: “A Globo, porém, com nítido cunho vexatório, não deixa a sociedade esquecer”.

A insistência na exibição do vídeo, segundo o advogado, gerou um novo trauma: “O que a emissora está fazendo com o ser humano extrapola todos os sensos comuns. Tais fatos destruíram a carreira de um jovem com muitos sonhos”.

De acordo com os autos, Cajuru não conseguiu renovar seu contrato após o episódio e passou a enfrentar dificuldades para ser contratado por outros clubes.

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Em sua defesa, a Globo argumentou que o cálculo de 4.800 exibições seria “fantasioso”. “Apesar dessa criativa contagem, o goleiro somente foi capaz de comprovar [nos autos do processo] a exibição do vídeo em três oportunidades”, declarou a emissora.

Ainda segundo o canal, o vídeo fazia parte de uma série de pílulas informativas com os principais destaques — positivos e negativos — dos campeonatos. “Mas, ao contrário do alegado, o vídeo não foi exibido todos os dias”, afirmou a emissora. A Globo, porém, não especificou o número real de reprises, dizendo apenas que foram “nada além disso”.

A empresa também afirmou que não cometeu ato ilícito e que apenas reproduziu, “sem comentários pejorativos”, as falhas dos goleiros “tal como transmitidas ao vivo aos telespectadores”.

O Tribunal de Justiça de São Paulo, no entanto, rejeitou os argumentos da emissora e manteve a condenação. A Globo ainda pode recorrer da decisão.

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