A morte do Papa Francisco, aos 88 anos, na última segunda-feira (21), gerou forte comoção mundial e reacendeu o interesse por um dos rituais mais emblemáticos da Igreja Católica: o conclave, processo que elege o novo pontífice. Nas redes sociais, internautas passaram a especular sobre possíveis sucessores e até declararam torcida por seus “favoritos”. Um dos nomes mais citados até agora é o do cardeal Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila, nas Filipinas.
Embora o conclave tenha ganhado popularidade recente graças ao filme estrelado por Ralph Fiennes — vencedor do Oscar de Roteiro Adaptado —, que dramatiza os bastidores da escolha de um papa, o processo real é muito mais reservado e repleto de regras centenárias.

A origem do ritual
O conclave foi oficializado em 1274 por determinação do Papa Gregório X, após o mais longo processo de escolha papal da história. Entre 1268 e 1271, os cardeais levaram cerca de 34 meses para eleger um novo líder após a morte do Papa Clemente IV. O impasse, marcado por divisões internas, causou enorme frustração entre os fiéis.
Para forçar uma decisão, os cidadãos de Viterbo — onde o conclave acontecia — trancaram os cardeais no palácio, racionaram sua comida e até removeram parte do teto do local. A estratégia funcionou: em 1º de setembro de 1271, Teobaldo Visconti foi eleito e assumiu como Papa Gregório X. Sua eleição marcou a criação de normas que ainda hoje regem o conclave.
Como funciona o conclave?
Apesar de algumas modernizações ao longo dos séculos — como o limite de 120 cardeais eleitores, estabelecido por Paulo VI na década de 1970 —, a essência do conclave permanece a mesma. Veja como funciona o processo atualmente:
Início da Sé Vacante: Após a morte ou renúncia do Papa, a Igreja entra oficialmente em período sem pontífice.
Espera tradicional: Os cardeais costumam aguardar até 15 dias para iniciar o conclave.
Flexibilidade: Desde Bento XVI, é permitido antecipar o início, caso todos os cardeais estejam presentes.
Prazo máximo: O conclave deve obrigatoriamente começar até o 20º dia da Sé Vacante.
Local: A eleição acontece na Capela Sistina, no Vaticano.
Isolamento total: Durante o conclave, os cardeais são isolados do mundo externo — sem celulares, internet ou comunicação com o exterior.
Sigilo absoluto: Todos juram manter total segredo sob pena de excomunhão.
Quem vota: Apenas cardeais com menos de 80 anos podem participar.
Regras de votação: São necessários dois terços dos votos para eleger um novo Papa. Não é permitido votar em si mesmo ou se abster.
Ritmo das votações: Após uma votação no primeiro dia, há até quatro rodadas diárias (duas pela manhã e duas à tarde).
Fumaça simbólica: As cédulas são queimadas após cada rodada. Fumaça preta indica impasse; branca, que um novo Papa foi eleito.
Apuração e anúncio: Três cardeais conferem os votos. Após a escolha, o novo Papa escolhe seu nome, se veste com o hábito papal e é apresentado ao público com o famoso anúncio: “Habemus Papam!”.

Conclaves na história
Enquanto o conclave mais longo da história durou quase três anos, o mais curto levou apenas 10 horas — em 1503, com a eleição de Júlio II. Nos tempos modernos, o processo tem sido mais ágil:
Paulo VI (1963): eleito em três dias, após seis votações.
João Paulo I (1978): dois dias, quatro votações.
João Paulo II (1978): três dias, oito votações.
Bento XVI (2005): dois dias, quatro votações.
Francisco (2013): dois dias, cinco votações — cerca de 27 horas no total.

A história mostra que, embora envolto em tradição, o conclave reflete o momento político e espiritual da Igreja. E, neste novo capítulo, o mundo observa atento o caminho até o próximo Habemus Papam.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques