No primeiro encontro com o Colégio Cardinalício após sua eleição, o Papa Leão XIV explicou por que decidiu adotar esse nome, inédito desde o século XIX, e sinalizou que seu pontificado terá como prioridade o enfrentamento das transformações sociais provocadas pela inteligência artificial. Ao relembrar a encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, publicada em 1891 durante a primeira revolução industrial, o novo pontífice afirmou que a Igreja precisa responder aos impactos da atual “nova revolução industrial”.
“O Papa Leão XIII, de fato, com a histórica encíclica Rerum novarum, enfrentou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e hoje a Igreja oferece a todos o seu patrimônio de doutrina social para responder a uma nova revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”, declarou o papa durante a audiência no Vaticano neste sábado (10).
A escolha do nome papal é uma tradição que carrega significados históricos, simbólicos e, por vezes, políticos. Leão XIV segue uma linhagem que inclui João Paulo II, Bento XVI e Francisco — todos inspirados por figuras anteriores ou referências espirituais. No caso de Jorge Mario Bergoglio, por exemplo, a decisão por “Francisco” foi tomada após ouvir do cardeal Cláudio Hummes: “Não se esqueça dos pobres”. Já Leão XIV optou por uma linha de continuidade com Leão XIII, papa que lançou as bases da doutrina social da Igreja.
Durante o discurso, Leão XIV também reafirmou o compromisso com o legado de seu antecessor, o papa Francisco, morto em abril deste ano. Destacou o “estilo de plena dedicação ao serviço e sóbria essencialidade na vida” de Jorge Bergoglio e defendeu que a Igreja siga trilhando os caminhos do Concílio Vaticano II. “Vamos assumir este precioso legado e retomemos o nosso caminho, animados pela mesma esperança que vem da fé”, disse.
Na avaliação de Leão XIV, o diálogo com o mundo contemporâneo e a defesa dos excluídos devem permanecer no centro da missão católica. “Gostaria que juntos, hoje, renovássemos nossa plena adesão […] à conversão missionária de toda a comunidade cristã; o crescimento na colegialidade e na sinodalidade; […] o cuidado amoroso pelos últimos e pelos descartados”, declarou aos cardeais.
A escolha do nome “Leão” também retoma um dos mais utilizados ao longo da história da Igreja: 13 papas adotaram o nome antes dele. O primeiro, Leão I, foi proclamado Doutor da Igreja e é lembrado por seu papel teológico e político no século V.
O papa finalizou o encontro com um apelo de humildade e colaboração. “Vocês, queridos cardeais, são os colaboradores mais próximos do Papa, e é um grande conforto para mim aceitar um jugo que está claramente muito além das minhas forças, assim como das de qualquer outra pessoa”, concluiu.
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