Ali Musthofa, guia turístico que acompanhou Juliana Marins na trilha do vulcão na Indonésia, negou que tenha tido omissão para o resgate. Ele prestou depoimento neste domingo (29), em uma investigação da polícia do país que analisa as circunstâncias da morte da brasileira.
De acordo com o jornal O Globo, Ali negou que tenha abandonado a turista antes de ela cair cerca de 600 metros do Monte Rinjani. Ele admitiu que aconselhou a publicitária a descansar enquanto seguiu andando, mas teria combinado de esperar por ela mais a frente da trilha.
“Eu não a deixei, mas esperei três minutos na frente dela. Após uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu”, explicou Ali. “Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar”, acrescentou.
“Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la. Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda”, declarou.
Segundo o guia, ele teria ligado para a empresa em que trabalha para avisar sobre o acidente: “Liguei para a organização onde trabalho, pois não era possível ajudar a uma profundidade de cerca de 150 metros sem equipamentos de segurança. Eles deram informações sobre a queda de Juliana para a equipe de resgate e, após a equipe ter conhecimento das informações, correu para ajudar e preparar o equipamento necessário para o resgate”.

O chefe da Unidade de Investigação Criminal (Kasat Reskrim) da Polícia de East Lombok, I Made Dharma Yulia Putra, disse, nesta terça-feira (1), que várias pessoas envolvidas foram convocadas para prestar depoimento como testemunhas. “Ainda estamos coordenando com a equipe da Embaixada do Brasil. Eles também monitoram diretamente as informações que se desenvolvem a partir deste caso”, informou.
“Nenhum suspeito foi determinado. Nós nos concentramos na coleta de dados e na análise de depoimentos de testemunhas”, completou. O foco da investigação é verificar indícios de possíveis elementos criminosos na morte de Juliana.
Relembre o caso
Juliana Marins, natural de Niterói (RJ), era publicitária formada pela UFRJ. Ela estava viajando sozinha pela Ásia desde fevereiro, em um mochilão que incluiu Filipinas, Tailândia e Vietnã. No dia 20 de junho, a jovem sofreu uma queda no vulcão Rinjani.

Após a queda, Juliana ainda conseguia se mover. Cerca de três horas depois, foi vista por turistas que informaram sua localização à família e enviaram imagens da região. Apesar disso, o resgate demorou dias. A família afirmou que Juliana ficou desamparada por quase quatro dias, escorregando por trechos da montanha, sendo vista em diferentes pontos ao longo do período.
O corpo foi avistado pela última vez por drones, cerca de 500 metros abaixo do penhasco, sem sinais de movimento. Pouco depois, equipes de busca encontraram Juliana sem vida, a aproximadamente 650 metros do local da queda.
A repercussão do caso mobilizou as redes sociais. A página criada pela família para concentrar informações e cobranças por apoio das autoridades ganhou grande visibilidade, alcançando 1,2 milhão de seguidores em poucas horas. O corpo de Juliana foi reconhecido por familiares e passou por necrópsia no dia 26 de junho. O laudo médico apontou que a causa da morte foi traumatismo por força contundente, que provocou danos internos e hemorragia severa. A hipótese de hipotermia foi descartada.

Segundo o médico legista Dr. Ida Bagus Putu Alit, do Hospital Bali Mandara, a vítima faleceu pouco tempo depois de sofrer o trauma. A estimativa é de que a morte tenha ocorrido em até 20 minutos após a lesão mais severa. Os pais da publicitária acionaram a Justiça para que uma nova autópsia seja realizada no Brasil. O pedido foi aceito pelo governo Lula e o exame deve ser feito nesta quarta (2).
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